A onda nostálgica de Hollywood arrebata a franquia Sonic
A década de 1990 foi marcante para aqueles que puderam aproveitar a época. Ícones midiáticos que apareceram nos mais diversos formatos no princípio do período e tecnologias revolucionárias que mudaram nossa forma de interagir com o mundo surgiram como marcos de uma época que hoje já está mais de 20 anos distante de nós.
É impossível falar dos anos 1990 sem mencionar os videogames. Com a abertura dos mercados brasileiros a mais bens de origem estrangeira, além da possibilidade da fabricação de itens eletrônicos em solo nacional por meio de parcerias muito bem acertadas, não mais ficaríamos atrasados quanto às novidades que chegavam ao resto do mundo.
Com isso, Mario Bros. e Sonic tomaram as nossas casas, e as disputas entre Nintendo e Sega – que hoje se unem em jogos que têm como tema as Olimpíadas – chegaram junto. Para além das telas de televisão que recebiam os sinais dos consoles, todo um mercado de suporte, que ia das distribuidoras de jogos até as edições de revistas dedicadas a jogos, foi criado para fazer a máquina girar.
A nostalgia que essa época traz, apesar da falta de várias facilidades que hoje temos graças em grande parte à internet – cuja forma embrionária apareceu também nos anos 1990 –, dificilmente será reproduzida de forma igual no futuro. Entretanto, as empresas de mídia têm feito um grande esforço nesse sentido, recuperando franquias e trazendo às grandes telas nossos heróis de outrora. Algo que era quiçá esperado, ao se observar as dificuldades que o mercado cultural de massa tem enfrentado há alguns anos.
Os anos 1990 como ruptura estilística
Em forma puramente estilística, a década de 1990 veio para representar uma enorme quebra em relação ao período oitentista. Esse rompimento era verificado de forma bem clara nos universos do cinema, da música e da moda, que viram repaginadas drásticas.
Nestes três ramos, deixaram-se para trás as cores mais sombrias e a onda pessimista que os anos 1980 carregaram por muito tempo. O “revival gótico”, que era visto em filmes como o Batman de Tim Burton, deu lugar à explosão de cores nos estúdios e nas passarelas. Agora a tendência era ser “cool”, colorido, otimista e até mesmo futurista.
Os videogames acabaram passando pela mesma transformação, cuja maior representação é Sonic. O superveloz ouriço azul com tênis vermelhos, cheio de atitude e lançando mão de todas as gírias noventistas, é um retrato fidedigno da época que testemunhou o seu auge. E, graças aos esforços conjuntos da japonesa Sega com a brasileira Tec Toy para tornar videogames uma mídia de massa no Brasil por meio de consoles como o Mega Drive, o herói acabou se tornando parte do inconsciente coletivo dos anos 1990, até mesmo entre aqueles que nunca pegaram num controle de videogame.
Enquanto os anos 2000 e 2010 têm tido muito mais proximidade com a década de 1980, tanto em visual quanto em pessimismo, a iconografia de Sonic – que poderia ser vista como ultrapassada – continua muito viva. Ela conta ainda com uma grande base de fãs ultradedicados, tanto aqui no Brasil quanto no resto do mundo, que consomem as mídias do herói de forma religiosa, em um fenômeno que é raramente visto com outros ícones dos videogames.
Um “revival” nada novo
A dedicação dos fãs de Sonic ao herói foi sem dúvida uma das motivações para que o seu filme começasse a ser desenvolvido pela Paramount. E o mesmo vale para a sua renovação visual, em uma demonstração clara de que o estúdio estava bem atento para o seu público-alvo, que criticou (de forma mais do que justificada) a potencial representação do ouriço nas telas.
É interessante, entretanto, observar que Sonic não é o primeiro ícone dos anos 1990 a receber um “revival” midiático. A franquia Jurassic Park, por exemplo, ganhou uma nova série de filmes, além de ter recebido destaque em um dos produtos oferecidos na plataforma da Betway caça-níqueis online e em um simulador de parque de dinossauros, Jurassic World Evolution, para Steam e outras plataformas. As Tartarugas Ninja também ganharam um novo filme, além de jogos de celulares de videogames tradicionais, como o Playstation 4. Até mesmo Homens de Preto, que estava fora dos circuitos de cinema desde o começo dos anos 2002, teve sua trama “ressuscitada” na década atual.
Enquanto isso, vemos cada vez menos franquias originais tomando os cinemas. Houve tentativas bem-sucedidas – caso de Jogos Vorazes, que se tornou um grande hit nas telas –, mas (muitas) outras não tiveram o mesmo desfecho.
Surfando na onda da nostalgia
Percebe-se com clareza que em tempos atuais não é fácil conseguir público cativo para “novidades” no mercado de mídia. As maiores bilheterias atuais ficam nas mãos das adaptações de histórias de super-heróis em quadrinhos, que existem desde o século passado, e filmes que conseguem tirar do trono os enredos de herói são em geral os de franquias ressuscitadas, como os supracitados.
Dessa forma, os vieses dos já bem conservadores executivos dos estúdios de cinema de Hollywood são apenas confirmados e, assim, fica muito mais fácil apostar no “boom” nostálgico trazido por um filme de Ghostbusters, que possui inspiração clara na série Stranger Things, da Netflix – que se passa justamente na década de 1980 e acaba assim atiçando também a veia da nostalgia.
Para o mercado, isso pode não ser um bom sinal, uma vez que esse tipo de tendência pode em breve encontrar seu esgotamento, mas, enquanto isso não ocorre, os fãs de franquias como Sonic irão apenas aproveitar o momento e torcer para que o ouriço tenha uma representação digna da sua estatura nos cinemas.
Matéria feita por nossos parceiros ;). Curtiu? O que você espera dessa “onda”? Comente aí!
Adorei o post HK. Conseguiu traduzir bem o espírito do tempo que eu e muitos outros sentíamos nos anos 90. Carrego comigo a mesma impressão: a de que o futurismo e otimismo que pairava em todos as fronteiras da arte naquela época, dificilmente voltará tão cedo. Também temo a saturação do apelo à nostalgia nas mídias; mas não nego que em tempos mais tênues como os de hoje, recordar de uma época mais alegre e despretensiosa traz um certo conforto de um tempo mais simples. Em tempos, sou frequentador do site desde 2002, e há anos não comentava. Vida longa a Power Sonic e a nosso ouriço favorito 🙂
Não tinha parado para refletir sobre como a arte pode traduzir os sentimentos coletivos de uma época.
@André – Gostei muito dessa postagem também. Pensei a mesma coisa sobre a possível saturação que esse uso intensivo da nostalgia pode causar no mercado.
Sem dúvida, obrigado por acompanharem, pessoal!